[DA SEPARAÇÃO ENTRE POEMA E POESIA]
[foto de peter turnely] [penso na figura do poema: plâncton, âmbar, abelha, ou grãos de trigo, em pendões, ao vento. penso nessa figura que nada tem com a poesia. penso no organismo, no indivíduo, penso na ilha e não penso no continente. penso a figura de um tufo de algodão que rola, deriva, ao sopro de uma ventania. penso na figura em minudência ímpar, esses caroços do júbilo e do êxtase. penso nessa figura a que se denominou poema, já tarde demais quando a poesia era já forma adiposa, teia-aranha. penso na figura do que é menos, penso nos engenhos da partícula, o plâncton, o âmbar, o pólen, e não penso na forma-em-abundância, nos cargueiros sinistros oceânicos, não penso na forma que é discurso. agora é quase noite, e a poesia é esse bolero sob o poste: lacrimosa, pantagruélica, a gula pela gordura. agora é quase noite, e o poema é esse farelo de pão sobre a toalha, nele cabe uma galáxia, tão condensável é o átomo de sua anatomia.]