[EDMOND JABÈS: GENEROSIDADES DO SILÊNCIO]

[o que perturba sem nenhum ruído, sem 
algaravias, o livro perturbador e perturbante, 
esse livro que por ele somos perdidamente atraídos 
(são tão poucos, são contáveis nos dedos), 

esse livro que nos retira o centro e nos lança 
às espirais da própria perturbação, esse livro 
talvez não seja um livro longo, imenso, oceânico, 
mas um livro que, mesmo ao ter mil páginas, 

é um livro de pequenas cápsulas, de pequenos grãos, 
de pequenas ilhas. 

mostro a k. e a q
um dos livros de jabès. abrimos em conjunto 
as suas páginas. lá estão as cápsulas, as frações 

e as porções do fato perturbador e perturbante. 
o que lemos nesse livro, livro que é a multiplicação 
de tantos livros num pontilhismo de tantas ilhas 
em um mapa sem nome, nos joga às margens 

da cidade. a cidade então perde o centro, e, com ela, 
passamos a habitantes do horizonte. o horizonte 
sem margens. trazemos então edmond jabès, 
ele próprio, ao nosso convívio. dele ouvimos 

a generosidade do silêncio. nele identificamos 
o silêncio ouvinte, esse silêncio pleno de ouvidos, 
silêncio pleno de olhos, silêncio pleno de peles. 
o silêncio como uma epiderme do tempo. jabès 

então caminha conosco por essa belo horizonte 
a cada olhar inventada. também ele usa sapatos 
náuticos. também ele atravessa de um lado 
e outro as alfândegas dos gêneros.]

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