[O BARCO E O LIVRO DOS PRESSÁGIOS]
[o livro dos presságios,
aberto em dia errado, anunciava
o barco para a tarde, a horas tantas,
entre o dia e a noite, e seria
um barco iluminado,
traria tochas na proa, e ele
embicaria porto adentro, dois
marinheiros o conduziriam ao cais,
ambos cegos, joão
era o nome de um, jarbas
era o nome de outro,
e as cordas e os cordames,
os nós e os laços dos velames
penderiam do mastro,
no convés o resto de peixes,
a tinta azul que grafava o casco,
"ilusões invictas"
era o nome desse barco
anunciado para a tarde,
isto conforme o livro
dos presságios, livro
aberto em dia errado,
pois previa para hoje
o que de fato seria ontem,
equívocos de mãos
no desgoverno de um lapso,
mas eis que a tarde
apagava luzes, mas eis
que a noite abria as portas
para novo expediente,
mas eis que a roda
dos calendários girou
com o súbito de um vento,
mas eis que a barra
tingia-se de um fogo,
e então viu-se o clarão
das tochas na proa,
joão e jarbas acenaram
suas mãos de sal,
e o barco de hoje, que era
o de ontem, entrou no porto.]

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