Postagens

Mostrando postagens de 2022

[EM TRIESTE, NO CAFÉ MOJORES]

Imagem
[Os camarões enlatados da marca Nogalitos (para quem não os conhece, são secos, miúdos e polvilhados com especiarias picantes) ainda podem ser degustados no Café Mojores, de Trieste, o mesmo aprazível e distinto estabelecimento já centenário onde o escritor Carlo Nubs costuma receber os amigos nas tardes de quarta-feira. Ali estive, no mês passado. Levava comigo algumas edições raras de manuais de pesca. Entre eles, cito um pequeno compêndio, não propriamente sobre a arte pesqueira, mas sobre a atitude que deve ter o pescador em locais de arriscado acesso, locais pouco frequentados, locais regidos pelo acaso, já que nunca sabemos se terminamos o dia com o embornal farto ou com a paciência rota. Carlo Nubs ficou comovido ao folhear essa edição que lhe caíra em mãos, pela primeira vez, fazia uns vinte anos. Ouvi-o dizer, de cor, frases inteiras sobre a arte da paciência ali contida, especialmente ali pela página 50, onde o autor do compêndio (omito o seu nome por motivos de segurança)...

[DEPOIMENTO DE NOEL BISCOLET, VULGO CONDE DE LAUTRELUNE]

Imagem
"Eu conheci o escritor Paulinho Assunção em São Paulo, em janeiro ou fevereiro de 1971. Era então um sujeito magro de dar pena. Pele e ossos. Usava uma calça de tergal, quedes pretos muito usados, camisa de gola puída e sempre com um casaco de brim marrom. Todos os começos de noite ele chegava à Biblioteca Mário de Andrade, na Rua da Consolação, e dali era o último a sair.  Dizia-me estar copiando verso a verso, linha a linha, sílaba a sílaba, a poesia de João Cabral de Melo Neto. Tudo em um cadernão escolar que ele levava debaixo do braço até um ponto do ônibus na Avenida Rio Branco, de onde seguia para os altos da Vila Madalena, na Rua Madalena. Apesar da vida difícil e da asma, possuía um entusiasmo invejável. Tinha vasculhado toda a seção de livros raros da biblioteca. Em sua mesa, na sala de consultas, avolumavam-se primeiras edições do modernismo, lia com voracidade Oswald e Mário, e soletrava em espanhol a obra de Lorca e Antonio Machado.  Lia sempre c...