[PORÇÕES DE SUBLIME]

["Em uma caixa invisível, o menino guarda porções de sublime. A caixa fica à contraluz, na sala, entre um pêndulo e um velho que dorme. Todos os dias, pela manhã, o menino coloca porções de sublime dentro de sua caixa invisível. E todas as noites, nas horas mais avançadas, essas porções de sublime saem pelas minúsculas frestas da caixa. Saem e adquirem asas. Saem e entram nos sonhos do velho, o velho que dorme. Já o pêndulo, um pêndulo tosco, feito de pedra, esse pêndulo marca indefinidamente os momentos em que as porções de sublime guardadas pelo menino se transformam, quando essas porções deixam o estado da matéria-sombra e migram para o estado da matéria-luz. E eu, Franz Kafka, com as minhas porções de silêncio nos dias e nas noites de Belo Horizonte, fico sempre à espreita, à espera, pronto para o instante em que os vaga-lumes da matéria-luz me revelarão o enigma."]


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