[UM CONTO CONJUGAL]

[kátia gisele plantou o marido em um canteiro de alfaces.]

[o marido de kátia gisele demorou para crescer, mas kátia gisele armazenava farto estoque de paciência.]

[kátia gisele esperou, trocou várias vezes de avental, lustrou muitas vezes as lentes dos óculos na ponta do nariz.]

[as horas, os dias, as semanas, os meses: choveu, fez sol, nasceram dentes no menino mais novo.]

[na vizinhança, maridos cresciam e brotavam em canteiros diversos: de couve, abóbora, acelga, jiló.]

[kátia gisele punha guarânias na vitrola, sonhava com olavo bilac.]

[na passagem de uma lua para outra lua, o marido de kátia gisele brotou.]

[em questão de horas, surgiu folhudo, robusto, esponjoso, entre alfaces verdejantes.]

[em êxtase, kátia gisele regava o marido com as gotículas de um regador de bico em riste.]

[o brasil já ia longe, para os lados do último deserto da finisterra, quando kátia gisele notou sustância e substância no marido.]

[comeu-o em um tarde de domingo, junto com as amigas márcia regina e leonora eustáquia.]

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