[É UM ENGANO IMAGINAR QUE A RUA DA BAHIA DEU A DRUMMOND A PEDRA NO MEIO DO CAMINHO]
[A Rua da Bahia é uma rua que vai daqui para acolá e de acolá para nenhures.
É rua em declive ou em aclive, conforme os óculos, conforme o destino. Sobe, se você está a caminho de acolá; desce, se você está a caminho de nenhures.
É rua apropriada para quebrar silêncios. Quando falta assunto, é só dizer: "Rua da Bahia". Os assuntos voltam.
É rua densamente povoada pelo passado. Você diz: "Bar do Ponto". Todo o passado volta, e, junto com ele, voltam os fantasmas.
A Rua da Bahia inventou Belo Horizonte. "Haja cidade", disse a Rua da Bahia em uma segunda-feira chuvosa, muito tediosa, sem nada para fazer, só com empadas nos mostruários e alguns udenistas de cachecol. E houve então a cidade.
Do ponto de vista topográfico, a Rua da Bahia tem baixios, medianias e altanias. À meia-noite, não há vagas para poetas nas medianias, vagam anjos pelos baixios, sonham nas altanias os candidatos a governador.
Do Bairro da Floresta, onde começa, à Rua Carangola, onde termina, tudo é fabuloso na Rua da Bahia: passam javalis, dromedários, bem-te-vis de polainas, curiós de ceroulas, deputados dependurados pelas gravatas ― e ectoplasmas de faraós a caminho do Palácio da Liberdade.
É um equívoco pensar que a Rua da Bahia foi trazida de trem de Salvador, conforme divulgado pelo pessoal da UDN. Outro engano é imaginar que a Rua da Bahia deu a Drummond a pedra para o famoso poema, conforme propalado pela turma do PSD.
Mas é tese aceita ter havido um tempo em que todos os redatores de discursos dos governadores de Minas andavam à solta e sem camisa-de-força pela Rua da Bahia.
Ainda hoje, século e tanto depois, quem passa à noite pela Rua da Bahia pode ouvir versos assim: "Ó lua plana sobre os organdis de Eliana". Ou então: "Mansa é a mão que dança sobre a pança do comendador".]
Quem, como eu, nunca viu Belo Horizonte, poderia pensar que esta também seja uma das fabulosas “Cidades invisíveis” descritas por Italo Calvino.
ResponderExcluirTalvez Belo Horizonte só seja a invenção dos poetas que aí moram e sonham (e são muitos!).
Receba meus parabéns, a minha tradução para italiano e, para todos seus followers, um abraço amigável, Manuela
**********************
È un errore immaginare che la Rua da Bahia abbia fornito a Drummond la pietra in mezzo al cammino
La rua da Bahia è una via che va da qui a là e da là verso nessuna parte.
È una via in pendio. Sale, se stai andando per di là; scende, se non stai andando da nessuna parte.
È la via adatta a rompere silenzi. Se manca l’argomento, basta dire: "Rua da Bahia". Gli argomenti ritornano.
È una via densamente popolata dal passato. Tu dici: "Bar do Ponto". Tutto il passato torna, e, con lui, tornano i fantasmi.
La Rua da Bahia ha creato Belo Horizonte. “Sia la città”, disse la Rua de Bahia un lunedì piovoso, molto noioso, senza niente da fare, solo empadas nelle vetrine e qualche udenista col cache-col. E così la città fu.
Dal punto di vista topografico, la Rua da Bahia ha livelli bassi, medi e alti. A mezzanotte, non c’è posto per i poeti ai medi livelli, vagano angeli per i bassi, sognano in alto i candidati governatore.
Dal Bairro da Floresta, dove comincia, alla Rua Carangola, dove termina, tutto è favoloso nella Rua da Bahia: passano cinghiali, dromedari, pettigiallo con le ghette, curiò in calzamaglia, deputati impiccati alle cravatte ― e ectoplasmi di faraoni in cammino per il Palazzo della Libertà.
È un equivoco pensare che la Rua da Bahia sia stata portata in treno da Salvador, secondo quanto divulgato dagli esponenti dell’UDN. Altro errore è immaginare che la Rua da Bahia abbia fornito a Drummond la pietra per la famosa poesia, secondo quanto diramato dai membri del PSD.
Ma è tesi accettata che ci sia stato un tempo in cui tutti i redattori di discorsi dei governatori del Minas passeggiassero liberamente e senza camicia di forza per la Rua de Bahia.
Ancor oggi, dopo un secolo e rotti, chi cammina di notte per la Rua de Bahia può ascoltare dei versi così: “O luna, plana sopra l’organza di Eliana”. Oppure: “ Ganza é la mano che danza sopra la panza del commendatore”.
(tradução italiana de Manuela Colombo)