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Mostrando postagens de agosto, 2022

[DEPOIMENTO DE NOEL BISCOLET, VULGO CONDE DE LAUTRELUNE]

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"Eu conheci o escritor Paulinho Assunção em São Paulo, em janeiro ou fevereiro de 1971. Era então um sujeito magro de dar pena. Pele e ossos. Usava uma calça de tergal, quedes pretos muito usados, camisa de gola puída e sempre com um casaco de brim marrom. Todos os começos de noite ele chegava à Biblioteca Mário de Andrade, na Rua da Consolação, e dali era o último a sair.  Dizia-me estar copiando verso a verso, linha a linha, sílaba a sílaba, a poesia de João Cabral de Melo Neto. Tudo em um cadernão escolar que ele levava debaixo do braço até um ponto do ônibus na Avenida Rio Branco, de onde seguia para os altos da Vila Madalena, na Rua Madalena. Apesar da vida difícil e da asma, possuía um entusiasmo invejável. Tinha vasculhado toda a seção de livros raros da biblioteca. Em sua mesa, na sala de consultas, avolumavam-se primeiras edições do modernismo, lia com voracidade Oswald e Mário, e soletrava em espanhol a obra de Lorca e Antonio Machado.  Lia sempre c...