[AS DOIDICES PEDINTES]

[todas as doidices pedintes estavam reunidas: e pediram à noite que não apagasse as luzes.]

[pediram que as pessoas não calassem os cachorros, os que latiam melancolias na ponte: eram saudades do dono que partira, foi de navio. e não disse adeus.]

[as doidices pedintes não eram das grandes, eram só fiapos de doidices, doidices humildes, descalças.]

[por isso, pediam o que era tão pouco.]

[havia doidice de cavaquinho e doidice de bolso furado.]

[e havia doidice de amores raspados no fundo do tacho.]

[nós, o que passávamos ao largo, ficamos cúmplices dessas doidices pedintes: nossos corações eram governados pela mansidão.]

[e elas pediam chuvinha, a tímida chuva apelidada molha-bobo.]

[e pediam doce de manga, biscoitos de argola, pimenta dedo de moça.]

[pedidos não havia, porém, para viagem a nova iorque, bagdá ou minsk. lugares vestidos de longe, vestidos de tanta lonjura, coisas para doidices grandes, descomunais em doiduras.]

[que país tão primevo e tão bom era esse o das doidices pedintes. até os lacans eram dos menores, até os freuds eram dos minúsculos.]

[e as pessoas liam os livros que não tinham páginas.]

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