[JALBELOROVÂNSQUE]

[há uma suculenta iguaria nos interiores e nas combinações a esmo e improvisadas das palavras. 

"coisa de louco", diz a voz sem rosto. 

"coisa de desocupados", diz a voz do vento.

gozo, travessura, peraltice, fuzarca, pândega, diabrura, traquinagem. tantas analogias para esse jogo sem regras, sem normas, sem limites de namoragem com a língua.

no palato, forma-se uma sílaba. o néctar do riso vem e traz outra. o governo anárquico da música aparece e ali coloca entre as duas uma quiáltera para insuflar uma partícula melódica. 

poetas não regidos pelos parâmetros burocráticos costumam jogar tais bilboquês ou petecas semânticas.

aquilo que o atleta faz antes da maratona (esquentar músculos e tendões), o poeta não regido pela burocracia de escrever também faz, só que pela via do ludismo, pela via do prazeroso desrespeito a todas as leis da gramática.

altacestelógrafo. aramurilíndias. estulovaquias. golmeias. tulangovanta.

enquanto os que escrevem sob os ditames das sonolentas repartições públicas da língua, ou seja, aqueles que pegam na árvore dos dicionários as palavras mais gastas, o escritor não regido pelos memorandos e ofícios treina em sua cozinha joyceana. 

é uma alegria. é uma descompostura. é um escândalo. é uma pantagruélica festa.

é uma guerrilha vietcongue que surge pelos matagais do idioma e vem combater os exércitos imperiais com suas formações rígidas de soldados vocabulares.

lambôntega. zizizôstrego. chulimíndea. zástrule. gargalhume.

assanhadas, excitadas, elétricas, as partículas da língua saem do limbo insosso e amorfo do escrever sem arte e chegam, com alaridos e algazarras, para o festim dissoluto e orgíaco das combinações desregradas.

o poeta então prova das fontes primevas das palavras. aquilo que o bebê pronuncia nos primeiros rudimentos do falante aprendizado. ou aquilo que o homem velho cria, às escondidas para não ser chamado de senil, para conversar com o cachorro, com o gato, com o passarinho.

flíguido. trouvândigo. chisvolungreapoutenânticozules.]

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