[A NATUREZA E O PENSAR]

[é devagar que penso a natureza,
quero dizer, o redemoinho 
e o gafanhoto, a pedra e o graveto, 
a chuva e o terremoto.

não ponho pressa em mim 
para pensar o rio, seus remansos, 
seu leito turvo, galhadas
que descem, suas águas corredeiras,

esse rio que ponho no pensamento 
para melhor pensá-lo, pois um rio 
é sempre dois rios, uma coisa 
é sempre duas coisas,

a que está fora e a que está dentro, 
são campos magnéticos, circuitos 
entre o que se apalpa
e o que se pensa, a mesma coisa que,

ao ser pensada, ganha a consistência 
de ser a mesma e ser diversa, pois 
pensar é uma moenda, pensamento 
é aquilo que engenha, se penso

a coisa, e penso a natureza, a mesma 
coisa logo se inventa, basta pensar 
para que outro mundo venha, 
por isso chego à natureza 

como um peregrino, ando com patas 
de felino, lento eu giro o que eu vejo 
em suave rodopio, não corro, aprendo 
com a modorra do cachorro,

aprendo com a sonolência do cavalo, 
alio-me à força dispersiva que leva 
o cisco em ventania. se não entendo, 
espero, e se me espanto, alegro-me.]

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