[O JEITO DE OLHAR PARA O PRIMEIRO LIVRO]
Em 1980, publiquei meu primeiro livro. Poesia, sim, senhor. Livro nascido de um projeto que levou, em 1979, cerca de 40 artistas ao Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, representantes de áreas como artes plásticas, cinema, música, dança, teatro e literatura. Na área de literatura, fomos Adão Ventura, Ronald Claver e eu. Essa trupe toda ficou no Vale em torno de 15 dias, se bem me lembro. Com muita pândega e pouco juízo.
Dei ao meu livro o título um tanto brejeiro de Cantigas de amor & outras geografias. Poemas secos, áridos, estranhos, estrambóticos, embora um deles tenha sido musicado pelo compositor Melão sob o nome de Nas águas de Araçuaí. Melão e Lery Faria (parceiro que nos deixou tão cedo não faz muito tempo) voltaram da viagem com material que renderia um LP do mais alto nível, talvez o melhor trabalho gestado por esse projeto com patrocínio do governo do Estado, em plena ditadura. O governador de Minas era Francelino Pereira.
Quarenta e cinco anos, portanto, me separam daquele primeiro livrinho. De lá para cá publiquei mais poesia, ficção, crônica, infantojuvenil, biografia, e, também, livros institucionais, estes sob encomenda. No ano seguinte, 1981, e pelas mãos do poeta Moacyr Félix e apoio do editor Ênio Silveira (me escreveu uma carta muito amável), lancei também de poesia A sagrada blasfêmia do bares, pela Editora Civilização Brasileira. Livro profano e dolorido, com muitas gralhas em sua edição.
Pouco depois, em 1983, ganhei o Prêmio Nacional Cidade de Belo Horizonte, de poesia, com Diário do mudo, publicado pela extinta Editora Comunicação, em 1984, período em que eu fazia parte da Comissão de Redação do Suplemento Literário de Minas Gerais, junto com uma equipe formada por Murilo Rubião que contava com Duílio Gomes, Jaime Prado Gouvêa, Manoel Lobato, Adão Ventura, Wander Piroli, Lucas Raposo e Sebastião Nunes, que criou uma nova e bela cara gráfica para o velho Suplemento.
Calei-me, a partir daí, por vários anos, puxado gradativamente para o jornalismo. Só voltei à cena ao ganhar o Prêmio Minas de Cultura (Guimarães Rosa), de contos, com o livro Pequeno tratado sobre as ilusões, só publicado em 2003 pela finada editora Campo das Letras, do Porto, Portugal. Em 2000, havia lançado pela Editora Dimensão o infantojuvenil Livro de recados (de menina para menina), um livro que circulou muito pelas escolas.
Mesmo calado editorialmente durante tanto tempo, mesmo enfiado de cabeça no jornalismo até o final dos anos 1990, jamais parei de escrever desde aqueles dias jovens da década de 1970. E assim continuo aqui nos altos dos meus 74 anos. E olho para o primeiro livro com imensa afeição, vejo nele o embrião ou os rudimentos ou as garatujas de uma poesia que busquei e busco durante toda a vida, embora inalcançável, embora impossível. Mas isto é assunto para outro dia.
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