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22.3.23

[PAUL CELAN E O FIAPO DA ROUPA DE UM PEREGRINO]

[ainda noite, mas já manhã
prenunciada, veio o texto.
texto assim: fiapo
da roupa de um peregrino.

lembrei-me então da carta 
que paul celan
escreveu a hans bender 
em 18 de maio
do ano de 1960: 
"só mãos verdadeiras
escrevem um poema verdadeiro. 
em princípio, 
não vejo nenhuma diferença
entre um aperto 
de mãos e um poema".

e o texto veio assim: fiapo 
da roupa de um peregrino. 
não era ouro,
não era ourivesaria, nada 
de texto-diamante à luz chegante 
do dia: era fiapo.
fiapo da roupa de um peregrino.

com a delicadeza que se impôs 
em hora tão inaugural no tempo, 
tratei de laçar a lápis 
esse indizível que jamais escreveremos.

modo não há de escrever o fiapo
que se fez de texto na manhã 
prenunciada. o fiapo é o indizível,
é o horizonte inalcançável, é isto 
que nos ilude para a escrita 
sempre sonhada e impossível.]

[UM ESTRANHO PAÍS]

[era um país diferente em sua economia.
nele não se comprava. nele não se vendia.
fazia-se. produzia-se. conservava-se. 
e do armazenamento feito, por um

e por todos, fosse de víveres, fosse
de saberes, então distribuía-se. a um
e a todos. sem ricos, sem pobres. sem
inferiores ou superiores. sem ninguém

acima, sem ninguém abaixo. banido
foi o dinheiro, e a homenagem mais
comum nesse país tão estranho era
a homenagem às mãos, às mãos

que faziam, às mãos que produziam.
comum era ver a nomenclatura
dos logradouros, das cidades, ruas,
praças e estradas, até os rios, os lagos,

as montanhas e os edifícios, tudo
referia-se às mãos. era a praça
das mãos. a montanha das mãos.
o rio das mãos ou a estrada das mãos.

comum era ver na paisagem desse país
os fazedouros de tudo. banido o negócio,
o fazer tornou-se um fim prazeroso
e diverso. dos inventos aos experimentos,

da pândega ao baile, do circo ao plantio,
do jardim ao navio, e até o nada, o nada
de não fazer nada, ganhou condição
respeitável nos fazedouros do ócio.

difícil imaginar tal país em conceitos
de hoje, posto ser fácil dizer: "isto
é coisa de louco". contudo, eu proclamo,
neste poema modesto, o júbilo

de imaginá-lo naquela linhagem
que vem de tempos tão primitivos, 
passa pelo senhor thomas morus, vem
a galope nas épocas, de sonhadores

em sonhadores, "brindes, senhor karl
marx", "brindes, senhor bakunin", "alô,
senhor fourier", e vou de brindes
em brindes aos poetas e aos aloprados,

caminho por entre escombros, angelus
novus de paul klee, "brindes, senhor
walter benjamin", "alô, rimbaud", "alô,
drummond", digo "viva!" a um país assim.]

[OS RECRUTAS E O RAPAZ DO CASACO]

[Rubem Focs, antes que a besta surgisse outra vez na porta do escritório, decidiu que a frase de abertura da história seria esta: 

"Mês de junho: desce o rapaz de casaco marrom pelas escadarias da Biblioteca Mário de Andrade e entra na noite já fria de São Paulo, com um volume de A cartuxa de Parma debaixo do braço."

A história? Pelo que sabemos, teria sido assim: 

"1) Que um rapaz, de 20 anos, no ano de 1971, na cidade de São Paulo. 

2) Que o rapaz, muito magro e desnutrido, vindo havia poucos dias de Minas Gerais, usava um casaco marrom de brim naquela noite quando deixou a Biblioteca Mário de Andrade e caminhou em direção à Sete de Abril. 

3) Que o rapaz levava debaixo do braço um volume de A cartuxa de Parma, de Stendhal. 

4) Que o rapaz de casaco marrom chegou ali pelos lados da Marconi. 

5) Que ali pelos lados da Marconi havia um boteco onde três recrutas do Exército brasileiro, fardados, tomavam cerveja encostados no balcão. 

6) Que um dos recrutas, que era dentuço, viu o rapaz de casaco marrom e acenou para o rapaz de casaco marrom. 

7) Que o aceno do recruta dentuço era um aceno de ordem. 

8) Que o rapaz, muito magro e desnutrido, nascido em Minas Gerais, cumpriu a ordem e chegou até bem perto dos três recrutas. 

9) Que o recruta dentuço fez cara de víbora ao pegar na gola e numa das mangas do casaco marrom do rapaz de casaco marrom. 

10) Que o recruta dentuço perguntou ao rapaz onde ele havia conseguido aquele casaco. 

11) Que o rapaz, com A cartuxa de Parma debaixo do braço, disse que ganhara o casaco de um amigo em Minas Gerais, que o casaco antes era verde, mas fora tingido de marrom por sua mãe para que ele pudesse enfrentar o frio de São Paulo. 

12) Que a cara de víbora do recruta dentuço, que segurava o copo de cerveja até quase perto do nariz do rapaz de casaco marrom, ficou cara de víbora cascavel. 

13) Que outro dos três recrutas, o ruivo, tinha os dois olhos que eram olhos de fogo e disse ao rapaz que aquele casaco pertencia às Forças Armadas da República Federativa do Brasil. 

14) Que o terceiro recruta, que era mulato e o mais alto deles, fez o rapaz de casaco marrom tirar o casaco. 

15) Que o recruta mulato tomou o casaco do rapaz. 

16) Que o recruta dentuço fez o rapaz agora sem casaco se ajoelhar na porta do boteco. 

17) Que o recruta ruivo ordenou que o rapaz sem casaco cantasse o Hino Nacional ajoelhado na porta do boteco. 

18) Que o recruta mulato pediu no balcão um copo inteiro de cachaça e obrigou o rapaz sem casaco, magro e desnutrido, a virar o copo de um gole só. 

19) Que o recruta dentuço obrigou o rapaz sem casaco a virar mais um copo inteiro de cachaça e a cantar mais uma vez o Hino Nacional, sempre ajoelhado. 

20) Que os três recrutas chamaram o rapaz sem casaco de terrorista, da "corja do Lamarca". 

21) Que o rapaz sem casaco, pálido, quase verde, trêmulo e ajoelhado, começou a chorar. 

22) Que o recruta mulato deu um tapa na orelha do rapaz sem casaco vindo de Minas Gerais para tentar a vida em São Paulo naquele ano de 1971. 

23) Que o recruta ruivo deu outro tapa na orelha do rapaz sem casaco e disse que ele tinha dois minutos para desaparecer na noite de São Paulo. 

24) Que o rapaz se levantou cambaleante e foi pela noite de São Paulo em direção à Sete de Abril. 

25) Que, já longe, já quase na Barão de Itapetininga, com o volume de Stendhal debaixo do braço, o rapaz cambaleante e sem casaco ainda podia ouvir as risadas dos três recrutas naquele ano de 1971, na cidade de São Paulo, Brasil".]

19.3.23

[OS INCOMODADOS QUE FECHEM OS SEUS OLHOS]

[água límpida, água turva, o nu
na praça, a dor expandida dentro do olho
que buñuel cortou no chien andalou

os caminhos de proust, a cabeça baixa
de benjamin dentro da biblioteca, 
os sapatos de um tom waits que canta

em uma oficina metalúrgica, a sobra
deste lápis, meu bandoneón em silêncio,
a querela das vogais com as consoantes,

a indiferença, o desprezo, o ranço,
água límpida, água turva, o linchamento,
mais um será linchado nos arabescos 

da língua em estado de escombros, a morte 
da infância, as laranjas agora consumidas 
pelas moscas de um exército de moscas 

que surge a oeste, o sol, o sol, o sol, 
a epistemologia da bola de gude
ensanguentada que o menino guarda

em seu estojo de espantos, o nu
na praça, outra vez o nu na praça,
os corpos expandidos em nudez

voraz e bélica, os bons moços lustrados
pelo verniz das oligarquias, a árvore
das idiotias, o apartheid, as separações,

os muros edificados entre o dia e a noite,
o palhaço do norte, o palhaço do sul,
água límpida, água turva, os incomodados

que fechem os seus olhos, os templos,
os cofres dos templos, as instituições
bancárias dos templos, a fé em rendimento

nas bolsas de valores, água límpida, água
turva, vem de lá a aragem dos ventos
tóxicos que os odientos sopram pela boca

dos robôs, a manada, a manada, a manada,
a manada expandida com a sua poética
das simetrias, cérebros pendem dos postes,

"você só finge que me lê", diz o ermitão,
"cuspo na poesia", diz o bufão, "você
me matou", diz o sublime com o seu terno

de enterro, água límpida, água turva,
"pode chorar, pode chorar, pode chorar",
grita a mãe das usuras, "leia o meu 

que eu leio o seu", diz o negociante 
de estéticas em rede, desnuda-se mais um
nas varandas de finisterra, "vamos ouvir

a bomba", diz o filho ao pai crucificado,
água límpida, água turva, o filho
do poeta maior, o neto do poeta maior,

a parentela do poeta maior, ei-los
em festim devorante sobre os espólios,
o diabo na rua no meio de um fuzilamento,

a carvão escrevo o seu nome nas paredes
do cárcere, água límpida, água turva,
o rio sanguinolento por onde escorre

os ais dos violentados, chove, chove,
chove o ácido dos comentaristas saltitantes,
os proibidores acordam cedo, 

os proibidores usam cuecas de aço,
os proibidores dormem em camas de pregos,
"vai, pomba, vai levar o telegrama dos ódios",

diz a rua, diz a pedra, diz o carretel de linha
nos céus da pátria-podre, os incomodados
que fechem os seus olhos, tudo ou nada,

tudo ou nada, tudo ou nada, eis o repetitivo
repetitível das valsas binárias, "salve 
o boicote", diz o deus das pragas, água

límpida, água turva, os incomodados
que fechem os seus purulentos olhos.]

17.3.23

[VESTÍGIOS E PEGADAS]


[melhor cuidar desses vestígios todos que ali ficaram no assoalho: patas de gato e cachorro, gosma de caramujo, talvez pegadas de algum anjo que, na madrugada, veio espiar se os canários na cozinha estavam a salvo de algum predador. 

ou não: talvez eu deixe esses vestígios todos sobre o assoalho. e pense em outras coisas. coisas sem serventia como sem serventia é hoje o ato de escrever. pensarei mais detidamente na velhice, na dor do ciático, nos buracos e lacunas dos lapsos no pensamento, no fôlego mais curto escada acima escada abaixo.

ou seja: talvez seja bom não apagar os crimes e os delitos de quem passou pelo assoalho em horas avançadas da noite.]

14.3.23

[VIDRAÇA COM TRINCOS E OUTROS PEDAÇOS]

[só faltou contar que a palavra do meio era a mais enfeitiçável.]

[foi o jatobá quem me disse que frutel é o bordel das frutas.]

[hoje cedo comprei um araticum no mercado. os araticuns são frutas profanas e exalam o cheiro da primeira orgia vegetal.]

[a jornalista veio me entrevistar hoje sobre coisas estrovengas. escalafobéticas. dei desculpa de estar longe de onde estava.]

[está ficando de noite em minas. desde pequeno, gosto de imitar sombra na hora que anoitece.]

[mundo é palavra sem cabimento no embornal que eu levo no ombro. prefiro palavras cabíveis. por exemplo, cisco.]

[ele disse: "quando abrirem a minha arca, ela será tão vasta quanto a arca de fernando pessoa".]

[fazer para poucos, para uns mínimos loucos, e dar uma banana para a massa flácida de ouvidos moucos.]

[tantas vezes dá a louca no poeta. põe uma frase na cabeça e vai, de ponta a ponta, dando bom dia a cavalo, dando boa tarde ao capeta.]

["os bem-te-vis não aceitam o acordo ortográfico das sabiás." euler dos anjos.]

["os sonhos de um corrupto sempre acontecem dentro de um sonho alheio." jugger alemón.]

["de nada serviu a noite, pois o pastoreio de estrelas estava suspenso." otto das uvas.]

["gostei do modo como o seu livro fica sempre fechado na minha estante." ninno dos alaúdes.]

9.3.23

[VAGA-LUMES, VAGA-LUMES, POR QUE APAGARAM AS SUAS LUZES?]

[o furo de um verme na pele da manhã 
soçobra e aderna o barco que o fantasma
de um mendigo desenhou nas muradas
de uma ponte, a ponte que vai do nada 
para lugar algum. 

retenho desse instante o grito dentro
de um copo vazio. há um cristão
com o punhal encravado nas costas
de um anjo. o fundo das agulhas
recusou a passagem dos camelos,
e o reino dos céus, com fila nos caixas, 
foi tomado pelos banqueiros.

a vaca engole os seus intestinos. ursos
comem os seus filhotes. e os vermes
furam e furam a pele das manhãs. 

nada sabemos desse degrau que recebe
um passo depois de outro passo. 
trôpega senhora, trôpego senhor, 
trôpega família que alisa os seus fuzis. 
vão atirar em mim, em você, já atiram
desde cedo no vulto que o espelho
emitiu de uma abstração desnuda.

comemoram com os fuzis a retomada
da ordem. as lagostas em mar de gelo,
os filhos com o que lhes restam 
de cérebro na dobra dos bíceps.
os conversíveis, desde as garagens,
dão ordens aos empregados. miami
inunda as salas com holografias
de delírios, e o avô pergunta 
ao cachecol quando será a guerra.

o presidente-clone, com pedras no idioma,
chega à varanda. traz um fuzil. traz
uma pistola. saúda, com as mãos para o norte,
o presidente-topete. e o avô pergunta
ao cachecol quando será a guerra.

este é o livro em branco que não escreverei
desde esta praça de subúrbio. abro
em traços as palavras não mais vocalizadas.
este é o livro de ecos que não escreverei
desde esta ponta de precipício. vaga-lumes,
vaga-lumes. por que apagaram suas luzes?

há 1.518 anos que o ouro se acumula
nos intestinos do pai, da mãe, dos filhos.
há 1.518 anos que essas hordas saem cedo
dos palacetes para a caça ao índio, 
ao negro, ao sem voz, ao sem teto,
ao friorento menino com as cáries nos olhos.
e o avô pergunta ao cachecol 
quando será a guerra.

vaga-lumes, vaga-lumes. 
por que apagaram as suas luzes?

não há mais o caminho dos exílios.
os vermes agora corroem as bibliotecas.
os pelotões já fuzilam até mesmo
a metafísica. as valas comuns
recebem os corpos da morte em efígie.
e o avô pergunta ao cachecol
quando será a guerra.

atiradores abatem mais um professor.
poetas são enforcados com arames.
as siderúrgicas, gárgulas de ferro,
desovam ovos armamentistas
no colo dos passantes, os matadores,
os servos dos templos-quartéis.
e o avô pergunta ao cachecol
quando será a guerra.

esta madame que reza ao marido,
todas as noites, as novenas da usura.
esta madame que se benze
todas as noites para o rito de atiçar
os cachorros, de tecer os mantos
do escárnio, de alisar as pérolas
do autoengano. e o avô pergunta
ao cachecol quando será a guerra.]

7.3.23

[A LUXÚRIA E O POEMA]

[e o poema impôs ao tempo
a grã luxúria, este terceiro dos sete
pecados capitais. e o poema

deu viço ao que era baço, 
ao que era opaco, deu
magnificência e exuberância

ao tempo, alegrou as nuvens,
desregrou o vento em dançarolas
de leitura, e o vento assim leitor

agora cúmplice do poema
enamorou-se da luxúria, urra!,
gritaram os marinheiros no cais,

urra!, gritaram as mulheres de azul,
eia!, assim, em uníssono, os anjos
sem emprego nem patrões rumaram

em desgoverno para a festa, urra!,
outra vez gritaram os marinheiros
e lançaram ao mar os alfabetos, eia!,

e então os potros na montanha, eia!,
que a luxúria vinha com as romãs, eia!,
que o poema atiçava odor de enxofre,

e as éguas, ao largo, minavam água
de suas ancas, e os deuses, infantos,
entravam inteiros nos tonéis de baco.]

6.3.23

[MÁRIO DE ANDRADE VÊ OS VIDRILHOS]

[o poema-documentário começa 
nos próprios óculos de mário: é ali,
pela redondez das lentes, que se dará

o fenômeno dos vidrilhos, aliterado
fenômeno a se reproduzir ressoante
por maravilhas e brilhos da noite.

diz pedro nava que mário de repente 
debandou-se do grupo, foi para a sacada 
do grande hotel, contemplou o estilo 

flamejante e manuelino do conselho 
deliberativo, rua da bahia com avenida 
paraopeba, ali onde, adusto e áspero

pela rigidez e a monotonia, eleva-se
hoje o edifício malleta. e então
o poema-documentário volta aos óculos

de mário, e pela redondez das lentes
com faíscas nas hastes, flagra outra vez 
o fenômeno dos vidrilhos, a combustão 

de luzes na noite de belo horizonte,
o sonar de mário capta frequências acústicas,
seu radar recebe ondas eletromagnéticas.

com letreiros diante da câmera, o poema,
que é documentário, exibe as seguintes
frases: "ah, o brasil da república velha;

ah, a belo horizonte das magnólias; ah,
o barnabé em pânico com o ovo do novo
que eclode no ano de 1924; ah, o ah, o oh,

o ih das boquiabertas onomatopeias, o ah,
o oh, o ih das senhorinhas e senhorinhos 
do partido republicano mineiro". corte.

volta-se a câmera para os óculos de mário,
"holofotes que varrem a noite", diz nava.
corte. fusão de imagens dos óculos de mário

com os óculos do poeta sem nome. é o ano
de 2016, entrante, talvez venha uma hecatombe, 
chove, dói no horizonte a dor de um mendigo 

bifronte, gota a gota caem do céu vidrilhos 
de sangue, eis o poeta sem nome, turvas
lentes na noite, cinema de um mesmo instante.]

4.3.23

[COLERIDGE E MEU ALAÚDE FANTASMA]

[coleridge, em dejection, rima
lute (alaúde) com mute (mudo):
aeolian lute,/ which better far were mute.

isto eu li ainda há pouco em um dicionário,
desses dicionários muito sábios, e vim pela rua
com um alaúde imaginário, um alaúde

inexistente, caixa fictícia para vento e música,
e por sua inexistência, alaúde mudo, silent,
voiceless, um instrumento não tocável

pelo despropósito e a doideria de alguém
fazer música assim do nada, de nusgas e nesgas,
a mão solta ao vento em arpejos abstratos,

a corda que soa sem soar a nota sol
de praça em praça, assim eu ia, no poeta
coleridge eu pensava, e mais pensava

ainda no alaúde que eu levava, alaúde
fantasma, assim como os poetas hoje
levam seus poemas entre as mãos furadas,

tudo escorre, sílaba a sílaba, imagem a imagem,
tudo escorre por entre os dedos dos poetas,
assim como os grãos escorrem de uma peneira.]