[MÁRIO DE ANDRADE VÊ OS VIDRILHOS]

[o poema-documentário começa nos próprios óculos de mário: é ali, pela redondez das lentes, que se dará

o fenômeno dos vidrilhos, aliterado fenômeno a se reproduzir ressoante por maravilhas e brilhos da noite.

diz pedro nava que mário de repente debandou-se do grupo, foi para a sacada do grande hotel, contemplou o estilo 

flamejante e manuelino do conselho deliberativo, rua da bahia com avenida paraopeba, ali onde, adusto e áspero

pela rigidez e a monotonia, eleva-se hoje o edifício malleta. e então o poema-documentário volta aos óculos

de mário, e pela redondez das lentes com faíscas nas hastes, flagra outra vez o fenômeno dos vidrilhos, a combustão 

de luzes na noite de belo horizonte, o sonar de mário capta frequências acústicas, seu radar recebe ondas eletromagnéticas.

com letreiros diante da câmera, o poema, que é documentário, exibe as seguintes frases: "ah, o brasil da república velha;

ah, a belo horizonte das magnólias; ah, o barnabé em pânico com o ovo do novo que eclode no ano de 1924; ah, o ah, o oh,

o ih das boquiabertas onomatopeias, o ah, o oh, o ih das senhorinhas e senhorinhos do partido republicano mineiro". corte.

volta-se a câmera para os óculos de mário, "holofotes que varrem a noite", diz nava. corte. fusão de imagens dos óculos de mário

com os óculos do poeta sem nome. é o ano de 2016, entrante, talvez venha uma hecatombe, chove, dói no horizonte a dor de um mendigo 

bifronte, gota a gota caem do céu vidrilhos de sangue, eis o poeta sem nome, turvas lentes na noite, cinema de um mesmo instante.]

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