[A HABITABILIDADE DO POEMA]

[E então nomeio a habitabilidade do poema, a habitabilidade móvel do poema, seu movimento peregrino pelo tempo, através do tempo. O poema, casa móvel, a morada que se desloca.]

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[Lezama Lima disse certa vez, com imagens diamantadas, tão próprias do poeta cubano, ser ele um peregrino imóvel de si mesmo. Giro essa imagem de Lezama entre os dedos. Giro-a como quem gira uma esfera. Giro-a não para esgotá-la pelo faminto entendimento, mas para aceitá-la. E com ela ponho em circuito a habitabilidade do poema.]

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[A casa móvel do poema. Em que lugar estejam os peregrinos, abre-se a porta da casa móvel. Entrar não significa ficar, não significar tornar imóvel o que é íntimo, mas ir, ir-se, dentro e fora, a habitabilidade navegante do poema.]

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[Pois então a ideia de barco. Pois então a ideia de navegação. Chego assim ao destino argonauta dessa ideia que vem, e vem agora em comunhão com a habitabilidade do poema. Morar em viagem. A habitabilidade do poema é uma casa em viagem. Navegações habitadas.]

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[Faço reverências a outra ideia-imagem que eclode: o rio, o mar, o curso navegável cúmplice com a força motriz da viagem. O poema que dá abrigo, que é casa; o poema que é móvel, que é barco-moradia em deslocamento.]

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[Escrevo aqui e já estou acolá.]

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