[DE SILVINA PARA A PÁGINA]
[salta de um texto de silvina rodrigues lopes a palavra "rosaceamente". de propósito, descontextualizo-a. retiro-a, delituoso, de seu contexto. trago-a para a tarde de domingo. ponho-a sozinha na página para vê-la, girá-la, desdobrá-la, expandi-la. expandir os seus significados. rosaceamente. a rosa que se põe ao tempo para contagiá-lo. a rosa contagiadora. epidêmica. rosaceamente. a rosa-sendo-rosa, infinitamente sendo rosa, da manhã à noite, com passagem por essa tarde de um domingo. bem-aventuradas essas palavras que saltam dos livros como se uma pepita de ouro que salta do veio, do aluvião. ou um ovo que eclode. a isto eu chamo poesia.]
[A ESCUTA DO TEXTO]
[à tagarelice, a confusão universal; ao laconismo, o reino das ambiguidades. o que escutar? o que perceber no dorso ou nas vísceras de uma frase? pela "audição" silenciosa da leitura, "escutamos" o texto. se tagarelas, se boquirroto, ei-lo a gerar curtos-circuitos cognitivos. se lacônico, se esburacado ou lacunado, ei-lo a suscitar dizeres para a "escuta" bem mais além do que de fato ele diz.
a "escuta" do texto: arte, engenho, armadilha, tocaia, engano ou abismo, queda livre ao poço da incomunicabilidade?
só, diante do texto, em sua "escuta", dia após dia aprendemos com esse risco. risco letal, em muitos casos. ou extasiante quando o que vem da "escuta" é diamante, pássaro, vento, martelo, goiva, paisagem, pois substantivos límpidos de contaminação radioativa dessa grande central nuclear que é a escrita.
somos todos sísifos da audição, pois "escutar" o texto assemelha-se à condenação do mito original de levar a pedra ao cume e retornar, infinitamente, para de novo levá-la. "escutar" o texto também não tem fim.]
[O OLHO CONCERTISTA DO LEITOR]
[olho-amante, olho-amoroso, olho-tátil, olho-olfativo. de muitos modos e maneiras o olhar desliza sobre os textos e sobre os livros. ou sob, posto que o olhar igualmente transita abaixo da superfície aquática das palavras. mas há também a ideia de partitura. o olho como leitor instrumental em um concerto silencioso, cuja plateia se resume ao leiturante-instrumentista, um milagre dos sentidos pela capacidade de tocar e reger uma infinita massa de tons, timbres, nuanças, matizes, escalas. ler e tocar. ler e reger. ler e compor a composição outra no instante em que se lê. há sempre uma expansão incontrolável no ato de leitura. geografia e topografia sem divisas e sem fronteiras.]
[APAZIGUAMENTOS]
[o texto, no caminho do meio, para não atiçar as paixões. pois as paixões estão eriçadas, crespas, paixões de mar bravio. então o texto no caminho do meio para apaziguar os belicismos. ou pelo menos para não incentivá-los. e suavizar as dicotomias intransigentes. é que há ódio demais inoculado nas veias.]
[A INOCÊNCIA DA FOLHA]
["quem vem lá de dentro do silêncio?". assim perguntava a folha em branco, límpida ainda, cristalina ainda, sem ainda imaginar a orgia que o lápis, daí a pouco, lhe faria.]
[salta de um texto de silvina rodrigues lopes a palavra "rosaceamente". de propósito, descontextualizo-a. retiro-a, delituoso, de seu contexto. trago-a para a tarde de domingo. ponho-a sozinha na página para vê-la, girá-la, desdobrá-la, expandi-la. expandir os seus significados. rosaceamente. a rosa que se põe ao tempo para contagiá-lo. a rosa contagiadora. epidêmica. rosaceamente. a rosa-sendo-rosa, infinitamente sendo rosa, da manhã à noite, com passagem por essa tarde de um domingo. bem-aventuradas essas palavras que saltam dos livros como se uma pepita de ouro que salta do veio, do aluvião. ou um ovo que eclode. a isto eu chamo poesia.]
[A ESCUTA DO TEXTO]
[à tagarelice, a confusão universal; ao laconismo, o reino das ambiguidades. o que escutar? o que perceber no dorso ou nas vísceras de uma frase? pela "audição" silenciosa da leitura, "escutamos" o texto. se tagarelas, se boquirroto, ei-lo a gerar curtos-circuitos cognitivos. se lacônico, se esburacado ou lacunado, ei-lo a suscitar dizeres para a "escuta" bem mais além do que de fato ele diz.
a "escuta" do texto: arte, engenho, armadilha, tocaia, engano ou abismo, queda livre ao poço da incomunicabilidade?
só, diante do texto, em sua "escuta", dia após dia aprendemos com esse risco. risco letal, em muitos casos. ou extasiante quando o que vem da "escuta" é diamante, pássaro, vento, martelo, goiva, paisagem, pois substantivos límpidos de contaminação radioativa dessa grande central nuclear que é a escrita.
somos todos sísifos da audição, pois "escutar" o texto assemelha-se à condenação do mito original de levar a pedra ao cume e retornar, infinitamente, para de novo levá-la. "escutar" o texto também não tem fim.]
[O OLHO CONCERTISTA DO LEITOR]
[olho-amante, olho-amoroso, olho-tátil, olho-olfativo. de muitos modos e maneiras o olhar desliza sobre os textos e sobre os livros. ou sob, posto que o olhar igualmente transita abaixo da superfície aquática das palavras. mas há também a ideia de partitura. o olho como leitor instrumental em um concerto silencioso, cuja plateia se resume ao leiturante-instrumentista, um milagre dos sentidos pela capacidade de tocar e reger uma infinita massa de tons, timbres, nuanças, matizes, escalas. ler e tocar. ler e reger. ler e compor a composição outra no instante em que se lê. há sempre uma expansão incontrolável no ato de leitura. geografia e topografia sem divisas e sem fronteiras.]
[APAZIGUAMENTOS]
[o texto, no caminho do meio, para não atiçar as paixões. pois as paixões estão eriçadas, crespas, paixões de mar bravio. então o texto no caminho do meio para apaziguar os belicismos. ou pelo menos para não incentivá-los. e suavizar as dicotomias intransigentes. é que há ódio demais inoculado nas veias.]
[A INOCÊNCIA DA FOLHA]
["quem vem lá de dentro do silêncio?". assim perguntava a folha em branco, límpida ainda, cristalina ainda, sem ainda imaginar a orgia que o lápis, daí a pouco, lhe faria.]
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