[OS FURTANTES E OS ROUBANTES]

[o país dos furtantes e roubantes
amanhece gúvido, bégado, loupres.

os furtantes não dormiram, 
e os roubantes nem foram para a cama.

o país está vígado, gébido, lampes.
tantos furtantes e roubantes

acesos, com o rastilho e o fósforo,
à beira dos livros dóguidos, júlivos,

válados. os furtantes e roubantes
vão incendiar os livros. os cérebros

do país estão zípidos, záguidos, vôugos.
não há esperança. a esperança

desce, areia fina, pelas peneiras.
os furtantes e roubantes (de toga,

cartola, bengala, chapéus-panamá)
vão pelavenida, pelapraça, pelobeco,

pela aglutinação das palavras áldidas,
núvigas, zagantes. acabou o conhaque.

o tango foi sorvido pelo fole 
de um bandoneón derretido. asas

de morcegos vagam pela superfície
da sopa. os furtantes e os roubantes,

insones, perenes, levam as verrugas,
os cadarços, as ampolas, os óculos

e as lascas de unhas. meninos
se veem no espelho de poças de sangue.

o ninho dos furtantes e roubantes
prolifera ovos e ovos e ovos e ovos.

o país está jípido, fíquido, lípodo.
e há cadeados nos dicionários.]

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