[A POESIA DOMESTICADA]

[a poesia domesticada: qual jarro de porcelana: qual bibelô em penteadeira: qual toalha de fina seda.]
[a poesia domesticada: qual tesoura nas garras do tigre: qual serrote banguela: qual compasso de valsa.]
[a poesia domesticada: cachorro que não late: gato que não mia: potro que não dá coice.]
[límpida qual água sintética. nobre qual casaca de conde. mansa qual tanque de peixe.]
[que triste. que chiste sem a graça do chiste. que vasilha de alpiste.]
[vem o poeta com as luvas elásticas para domesticar a poesia.]
[vem o poeta com a pinça de manicure para escavar suas cutículas.]
[que engodo. que frase de veludo. que léxico de vidro.]
[bonita. catita. pepita.]
[desce qual tripa. ou se espirala qual fita de quermesse.]
[ou discursa. sobe em pódio e tribuna. sorve o chá da academia.]
[enquanto isto, o coturno, coturno do mundo-mundo, repisa o rosto mudo do mendigo.]

Comentários

Postagens mais visitadas