[COLERIDGE E MEU ALAÚDE FANTASMA]
[coleridge, em dejection, rima lute (alaúde) com mute (mudo): aeolian lute,/ which better far were mute.
isto eu li ainda há pouco em um dicionário, desses dicionários muito sábios, e vim pela rua com um alaúde imaginário, um alaúde
inexistente, caixa fictícia para vento e música, e por sua inexistência, alaúde mudo, silent, voiceless, um instrumento não tocável
pelo despropósito e a doideria de alguém fazer música assim do nada, de nusgas e nesgas, a mão solta ao vento em arpejos abstratos,
a corda que soa sem soar a nota sol de praça em praça, assim eu ia, no poeta coleridge eu pensava, e mais pensava
ainda no alaúde que eu levava, alaúde fantasma, assim como os poetas hoje levam seus poemas entre as mãos furadas,
tudo escorre, sílaba a sílaba, imagem a imagem, tudo escorre por entre os dedos dos poetas, assim como os grãos escorrem de uma peneira.]

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