[O LEITOR SEM ROSTO]

[um escritor escreve para um leitor desconhecido.]

[é um leitor sobre o qual o escritor apenas intui um rosto.]

[é um rosto difuso, apagado, recoberto por um véu que é enigma e mistério.]

[o escritor não sabe de onde vem esse leitor, para aonde vai, se aprecia as amoras fora de época ou se aprecia os cavalos selvagens.]

[é um leitor que não tem nome. pode ser josué, pode ser helena, pode ser augusto, pode ser ruth.]

[é um leitor que pode estar próximo, com a proximidade de um transeunte que passe por ele em uma manhã de dezembro; ou pode ser um leitor que viva nas terras geladas do norte, para além da dinamarca, ou do sul, pelos descampados da patagônia.]

[o escritor, ao construir o que escreve, apenas recebe de quando em quando os lampejos desse rosto desconhecido.]

[com ele, às vezes o escritor dialoga por uma forma de um diálogo sem palavras, e talvez receba dele uma palavra de assentimento ou de recusa.]

[jamais o escritor encontrará esse leitor que lhe surge no momento da escrita, mesmo que ele um dia apareça e diga que é o seu leitor.]

[o leitor daquele momento é sempre outro.]

[a solidão fundante da escrita é comum ao escritor e ao leitor sem nome.]

[mesmo que sejam companheiros de viagem.]

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