[DAS ESCOLAS LITERÁRIAS]

[filio-me a uma escola literária
pouco comentada, que é a escola
das tortuosidades,
essas tortuosidades das árvores 
e arbustos do cerrado, essa paisagem 
onde aprendi
a ver o horizonte em arabescos
de folhas, de cascas e espinhos.

foi essa paisagem que me ofertou a frase
em trilhas, atalhos, encruzilhadas,
o súbito de um olho d´água 
no altiplano, o súbito das pegadas
do lobo-guará, a hipnose olfativa
de um araticum caído, as florescências
da gabiroba em graciosas redondilhas,
o juá, o cajá-manga, essas pontuações
de frutos em estranhezas na frase, 
o ninho da cascavel aos pés da macaúba,
e, em noites de privilégio, o fogo-fátuo
a se elevar de antigas povoações.

dessas tortuosidades
que a gramática não prevê
e os compêndios não ensinam,
adquiri a frase em peregrinagens,
a frase que vai sem fim 
com o seu cajado,
porque os tropeços são comuns
nesse tipo de latitudes e longitudes
de palavras, e cair é quase um rito
para que floresça uma pausa,
um silêncio, o branco lacunar
de uma ruptura no sentido,
e para que surjam no rastro
do peregrino certas agrafias
que a escrita ainda não alcança.]

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