[CARTA AO SENHOR PON, MUY ESTIMADO EDITOR]

[Caro amigo Senhor Pon: 

Envio-lhe, enfim, os originais com 250 páginas (por favor, não fique assustado com o tamanho) em espaço simples. Há uma mancha de sangue na página 89. Por favor, igualmente não se assuste. Foi um acidente com o dedo médio no momento em que fazia a última leitura. Eu nunca deveria, Senhor Pon, usar o canivete enquanto leio. Nunca. Mas sou — o Senhor bem sabe — muito repetitivo.

Passarei por Lisboa em outubro, a caminho da Espanha. Estarei em Vigo até novembro. Vou com Lanna — há cinco anos que lhe prometi a viagem e agora não há mais como desistir. Levaremos também o gato — é o Lopes — que se encontra no oitavo capítulo do livro. Dedico-lhe, aliás, 33 páginas.

Peço-lhe paciência durante a leitura do texto que se encontra entre as páginas 143 e 198. Paciência e benevolência. Não pela qualidade (seja duro, Senhor Pon, não poupe nada em sua avaliação), mas pelo tema que ali descrevo — o tema do assassinato.

Confesso-lhe: fui testemunha daquele crime. E acrescentaria: o dedo que puxou o gatilho teve (simbolicamente, se assim posso dizer) a influência da minha mão. Invoco, porém, o sigilo. Se os críticos (sobretudo os críticos italianos) souberem de minha proximidade a tão deplorável fato, estarei para sempre banido da Europa, e jamais verei uma obra minha exposta nas livrarias do velho continente. 

Seria demais o convite para que esteja em Vigo pelos finais de outubro para dos copitas con nosotros? Lanna e eu estaremos à espera. 

Una stretta di mano.  

Do seu
G.]

Comentários

Postagens mais visitadas