[Você disse que era um fantasma, mas qual fantasma apareceria assim vestido de palhaço?
Não seria um mágico?
Não seria o Senhor Vargas, leitor de Proust, e fundador da Sociedade das Quietudes Outonais?
Convenhamos: não posso concordar que era um fantasma.
Até os fantasmas possuem certas idiossincrasias, certos hábitos, certas manias.
A figura que você descreve como um fantasma lembra mais as figuras inventadas em algum laboratório de escritor em extremo delírio.
Por exemplo, o laboratório do escritor Oswaldo Címbalo.
Está lembrado do escritor Oswaldo Címbalo?
Lembra que ele frequentava a Cantina do Lucas pontualmente às quartas-feiras, e atirava dardos em direção à porta de entrada do Maletta?
Lembra da noite em que ele gritou "Revolução", "Revolução", e depois ameaçou o diretor de teatro Peter Novais com um revólver de plástico?
Veja bem: o Oswaldo Címbalo era quem criava esse tipo de figura que você agora confunde com fantasmas.
Citarei, por exemplo, o Sociólogo Venceslau.
Ele está, se não me engano, no segundo livro de Oswaldo, aquele com um título quilométrico: Noite de nenúfares, trombones e caixões pela Avenida Augusto de Lima, com pintassilgos na janela oeste do Suplemento Literário.
Foi lançado no Pelicano.
Oswaldo Címbalo fez questão de vestir o garçom Jean Pierre com uma japona à moda chinesa, se é possível tal aberração estilística.
O crítico neorrealista Fábio Bigode compareceu ao lançamento com um bacamarte.
O colunista social José Mendaz tocava flauta.
Etc.
Estamos agora na era dos capitães-de-meio-cérebro.
Não acredito que a época dos fantasmas tenha voltado.
Os fantasmas, meu amigo, já não suportam mais esse mundo.
Esse é o tempo dos palhaços.]
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