[O CORAÇÃO DE BILLY THE KID]
2. São cinco jacarandás.
3. O terceiro é o mais velho, e é ali, um pouco à direita, onde há um marco de pedra, que está enterrado o coração de Billy the Kid.
4. Foi por amor.
5. Por um raio de muitas léguas, em qualquer birosca de beira de estrada, você vai ouvir a história.
6. O nome dela seria Orcanda, Orlanda, Ordália, Olinda — tantos nomes de boca em boca para referências a uma só pessoa.
7. Mais correto seria Ordália, filha de Josué e Mercês, Ordalita para os mais íntimos.
8. O amor chegou com fogo baixo, cresceu com algumas labaredas, virou incêndio pela altura de um setembro — há quem fale em outubro.
9. Billy the Kid era motorista de uma Scania entre Uberlândia e Jaboticabal — arroz nas viagens de ida, cerâmica nas viagens de volta.
10. Ordalita sempre punha os seus vermelhos (batom, vestido e unhas) quando presumia as buzinas no alto da curva, o ronco daquele motor feito potro, com medalhinha de São Judas Tadeu na boleia.
11. Foi então no tal dia (era setembro ou outubro), no coaxar da tarde, que a carreta serenou no acostamento, justo no 729, perto do terceiro jacarandá.
12. Contam que Ordalita só tinha risos, risos e rumorejos.
13. Contam que eram dois passarinhos, fervores de bicos e lábios, debaixo do jacarandá.
14. Contam que Billy the Kid, em certa hora, trouxe Ordalita ao colo, ele próprio fez-se rede, ele próprio fez-se ninho.
15. E contam das horas passadas, noite adentro, os dois.
16. E por fim contam do velho Josué, das trevas saído, com o punhal.
17. E contam.
18. E recontam.
19. O coração na madrugada, elevado aos céus, sob estrelas cadentes.
20. Contam palavras sinistras.
21. De um tal Billy the Kid.
22. Motorista.
23. Etc.
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