[NUVENS DE PALÍNDROMOS SOBRE BELO HORIZONTE]
[vicente gunz e eu fomos ver o homem-que-puxa-o-fio na avenida paraná.]
[o homem tem um cartaz de papelão sobre o peito, onde se lê: “eu sou o homem que puxa o fio”.]
[vicente gunz e eu contamos vinte e seis discípulos atrás dele.]
[parece que a jornada começou pela praça rio branco e seguirá até a praça raul soares.]
[não é preciso dizer que o fio que o homem puxa é um fio imaginário.]
[o homem leva com ele uma carretilha.]
[a carretilha desenrola-se interminavelmente.]
[alguns discípulos afirmam que o fio que o homem puxa é um fio vermelho.]
[alguns discípulos são filosóficos: “este é o fio das extremidades metafísicas”.]
[outros são mais pictóricos: “este é o fio da primeira rajada de cores do dia da criação”.]
[vicente gunz e eu agora fazemos parte do bando.]
[vamos pela avenida paraná, expedicionários, e tudo é um ruidoso estado de júbilo.]
[um poeta ainda em fase de aleitamento aliou-se a nós: “este é o fio das evoluções estéticas”, diz o poeta a todo instante, de esquina em esquina, como quem divulga um manifesto.]
[parece que nossa caminhada não terminará nunca.]
[gunz compra um chapéu de feltro.]
[eu abro o guarda-chuva.]
[moedas tilintam no meu bolso.]
[meu nariz ri do mundo.]
[acho que vai chover pétalas de rosas.]
[há nuvens de palíndromos no céu de belo horizonte.]

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