[FAZIA NOITE, MAS ERA URSO]

[fazia noite, mas era urso. 
fazia claro, mas era poço. 
fazia doce,
mas era vespa. fazia liso,
mas era lâmpada. 

ó, música sem som 
da frase oblíqua.
ó, mancha invisível 
no mar seco.

aqui vou eu: cavaleiro, 
cavalo, furo e faca 
pela dobra da música. 
da poesia, bani os incensos. 
da prosa, abri o capinzal
na planície, soprei 
dunas do deserto.

aqui vou eu: camelo 
e tuaregue, adaga 
e sangue, parede 
e alvura 
no sol de andaluzia.

não venha comigo, 
poeta imitante.
não venha comigo, 
lebre indignante.

nômade, montanhoso 
e litorâneo, trago 
amêndoa no punho. 
e componho: silêncio
de john cage 
dentro de um redemoinho.]

Comentários