[é o ano de 1991
e daqui a pouco vai morrer edmond jabès. dez
minutos, talvez quinze, assim nos conta
o poeta josé ángel valente.
jabès lê michel leiris.
jabès lê o último poema
de um caderno de leiris cujo título é fissures.
é um caderno de capa vermelha, publicado
em 90 (ano da morte de leiris) pela editora fourbis.
assim nos conta josé ángel valente sobre a morte
daqui a pouco, serão dez ou quinze minutos
para a morte de edmond jabès.
o poema que ele lê no caderno de leiris
assim diz: pautado, fixado, cercado, nada é já nada
quando já nada está em suspenso.
jabès está na sala. josé ángel valente não diz,
mas posso imaginá-lo em sua poltrona, posso
imaginar as suas mãos, posso imaginar
o seu fôlego enquanto lê o último poema
de um pequeno opúsculo de michel leiris.
por um momento, arlette jabès vai à cozinha.
por um momento, eis o intervalo de dez
ou quinze minutos, arlette jabès
vai à cozinha para cuidar de um assado.
o poeta josé ángel valente não diz, mas posso
imaginar a quietude na casa de jabès enquanto
ele lê michel leiris em sua poltrona
e sua mulher arlette vai até à cozinha.
jabès lê em sua poltrona, ao lado de uma escultura
em madeira feita por piera rossi, judia sefardita
e prima de arlette.
dez minutos, quinze, um pouco mais ou um pouco
menos, isto nos conta o poeta josé ángel valente.
dez minutos ou quinze, um pouco mais, um pouco
menos até que arlette volte à sala.
jabès está morto. o caderno de leiris,
caído de suas mãos, está aberto na última página,
lá onde se lê: pautado, fixado, cercado,
nada é já nada quando já nada está em suspenso.
pouco antes de morrer
(e isto nos conta josé ángel valente),
jabès disse a arlette ter sonhado com um dia
muito claro em paris, no jardim de luxemburgo.
no sonho, jabès se encontrava com leiris.
no sonho, leiris o abraçava, alegre, e dizia:
"quem ia dizer que não voltaríamos
a nos ver tão depressa?"
assim nos conta o poeta josé ángel valente
sobre a morte de edmond jabès. assim
repito o poema do poema, redigo
o que já dito, amêndoa dentro da cápsula,
cápsula dentro da amêndoa.
foram dez ou quinze minutos
para que o poeta virasse âmbar.]
minutos, talvez quinze, assim nos conta
o poeta josé ángel valente.
jabès lê michel leiris.
jabès lê o último poema
de um caderno de leiris cujo título é fissures.
é um caderno de capa vermelha, publicado
em 90 (ano da morte de leiris) pela editora fourbis.
assim nos conta josé ángel valente sobre a morte
daqui a pouco, serão dez ou quinze minutos
para a morte de edmond jabès.
o poema que ele lê no caderno de leiris
assim diz: pautado, fixado, cercado, nada é já nada
quando já nada está em suspenso.
jabès está na sala. josé ángel valente não diz,
mas posso imaginá-lo em sua poltrona, posso
imaginar as suas mãos, posso imaginar
o seu fôlego enquanto lê o último poema
de um pequeno opúsculo de michel leiris.
por um momento, arlette jabès vai à cozinha.
por um momento, eis o intervalo de dez
ou quinze minutos, arlette jabès
vai à cozinha para cuidar de um assado.
o poeta josé ángel valente não diz, mas posso
imaginar a quietude na casa de jabès enquanto
ele lê michel leiris em sua poltrona
e sua mulher arlette vai até à cozinha.
jabès lê em sua poltrona, ao lado de uma escultura
em madeira feita por piera rossi, judia sefardita
e prima de arlette.
dez minutos, quinze, um pouco mais ou um pouco
menos, isto nos conta o poeta josé ángel valente.
dez minutos ou quinze, um pouco mais, um pouco
menos até que arlette volte à sala.
jabès está morto. o caderno de leiris,
caído de suas mãos, está aberto na última página,
lá onde se lê: pautado, fixado, cercado,
nada é já nada quando já nada está em suspenso.
pouco antes de morrer
(e isto nos conta josé ángel valente),
jabès disse a arlette ter sonhado com um dia
muito claro em paris, no jardim de luxemburgo.
no sonho, jabès se encontrava com leiris.
no sonho, leiris o abraçava, alegre, e dizia:
"quem ia dizer que não voltaríamos
a nos ver tão depressa?"
assim nos conta o poeta josé ángel valente
sobre a morte de edmond jabès. assim
repito o poema do poema, redigo
o que já dito, amêndoa dentro da cápsula,
cápsula dentro da amêndoa.
foram dez ou quinze minutos
para que o poeta virasse âmbar.]
Comentários
Postar um comentário