[A MINHA PÁTRIA SÃO AS LÍNGUAS]

["a minha pátria são as línguas", 
está escrito neste canto 
quase roto de um velho bloco, 
a frase inscrita ou escavada 
no papel já quase sépia, 
a contrapelo da frase célebre 
do guarda-livros bernardo, 
o soares, 
aquele andarilho de lisboa, 
irmão e espelho em pena e lápis 
de fernando, 
o pessoa, a frase 
agora redescoberta 
vai então por outra via, 
não mais a pátria circunscrita 
à língua portuguesa, 
mas movente, 
em gula de outras línguas 
vivas ou mortas, 
as pátrias tantas quanto 
tantos os falares, os falares 
vivos ou os remotos 
em inscrições e pergaminhos, 
o homem que a escreveu 
multiplicado e subdividido, 
esses braços abarcantes, 
essas escutas, 
esse deixar-se inseminar 
pela babel das humanas gentes.]

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